14 fevereiro 2005

Ao mesmo tempo, em tempos diferentes

Se o meu queixo não te agrada, talvez seja porque eu ganhei uma cicatriz. Sim, nele mesmo, aquele que você adorava morder durante o coito. Os meus ombros já não te fascinam, é provável que largura imponente do passado tenha deixado saudades. Meus olhos já não lhe parecem tão vorazes, possivelmente a cobiça tenha mudado de foco. De minha parte. Se a postura que adotei antes era mais agradável no seu ponto de vista, fica claro que não nos pertencemos mais. De sua parte. As saudades que sente das minhas madeixas demonstra todo o desagrado que sente pela minha nuca. Isso pode ser bom; pelo menos você não se aproximará o bastante para me apunhalar por trás. Ou não; existe a chance de que queira se livrar da visão maldita. As pálpebras encobrem? O cinismo se agiganta por causa do tamanho dos olhos? Serve-me um café... Bem, continuemos... Ou não? Incomoda-te brincar com o passado? Se afeta dessa forma, "passado" não é a palavra mais apropriada. É que nem suco de polpa; se demorar muito de tomar, o grosso da fruta fica todo concentrado em cima, mas não se isola. Basta mexer que tudo se mistura novamente. Não, esquece o amor, bobagem, o retorno é possível para praticamente tudo, mas não de forma vulgar, o que vai e volta constantemente é bumerangue. Fume o seu último cigarro de haxixe e feche essa porta, ainda tem uma geada incômoda entrando.