30 junho 2005

Elite

Não que seja impossível, mas é quase um equívoco essa convivência. A existência de amor não torna irrelevante o fato que nem sempre fica tão claro; a consciência cega como forma de proteção. O fundo do poço é raso, qualquer gota faz uma enorme diferença. Os cálculos, apesar de exatos nos seus resultados, teimam em executar interpretações e práticas dúbias. Existiria relatividade na matemática?

A noite é indescritível, o prazer e a diversão. O desgosto matinal é quase uma piada de mau gosto. Humor negro também é valido... Verdade. Inexplicável.

Talvez eu seja a elite da convivência. Um caixote de opiniões em forma de hipérboles e metáforas, esnobe sem nenhum tipo de intenção, apenas sucumbo a um simples fato. As possibilidades que surgem em virtude das poucas nuanças opcionais que limitam de forma seletiva uma verdadeira aproximação.

Ficou clara a falta de caminhos para uma fuga. Bem ou mal, a rota de colisão está instalada

16 junho 2005

Rosas Graúdas Vermelhas

Algemado, ele sucumbia à imagem da fêmea se masturbando com o salto de um sapato fino. Não parecia doentio, apesar da agonia dele; queria se aproximar. A iluminação de velas, o cheiro de couro novo se misturava com o agradável odor das frutas exóticas. A cadeira era pesada, mas ele conseguia se arrastar.

A chave da porta fica um pouco emperrada, ele demora para conseguir abrir. Acaba tomando um pouco de chuva. Um pequeno saco de supermercado em uma das mãos. Na outra, um buquê com algumas rosas vermelhas graúdas e de cheiro marcante. Esfregou os sapatos úmidos e um pouco enlameados no carpete e, já na cozinha, abriu o pacote cheio de frutas exóticas. Lavou-as. Tirou toda a roupa e subiu lentamente as escadas com as duas mãos ocupadas; rosas e frutas em uma bandeja de prata. Ouviu gemidos... Diminuiu os passos e os sussuros se confundiam com palavras balbuciadas.

O homem agredido não podia se defender. A bandeja de prata já estava avermelhada, a dança de cores parecidas. Os vermelhos das rosas e sangue.

Ela já estava prestes a gozar. A velocidade do salto aumentava, os movimentos tinham uma certa sincronia. Parou. Catou uma rosa jogada no chão e mergulhou em uma poça de sangue em volta da cadeira. Esfregava carinhosamente no próprio sexo, sentia cócegas.

O som alto com a equalização ruim, talvez algum problema em uma das caixas. Ele ouvia Blind Melon; chorava compulsivamente. As lágrimas se misturavam com a água que jorrava da torneira da pia, onde ele lavava meticulosamente uma bandeja de prata.

04 junho 2005

...

"... E quando eu percebi, observava atônito os cabelos longos desgrenhados diante do vento forte, cada vez mais distante. Eu pensava se devia chamá-la, mas a vontade não surgia. Sensação engraçada. Ela estava de costas, caminhando lentamente; às vezes parava, mas em nenhum momento virou o rosto para mim. Novamente sensação engraçada: não senti falta disso, apesar da beleza da imagem. A silhueta diminuia e um sentimento de vazio e alívio tomaram conta. Me virei e caminhei. Dessa vez peguei o caminho do lado esquerdo..."