26 junho 2007

A Dança

Dançando com a morte encostada em meus lábios, sentindo toda a sua sensualidade. Ela crê que me seduz, mas consigo enganá-la. Talvez ela saiba que estou brincando e goste desse jogo.

Assim eu sigo... Vou assumindo o risco de tirá-la para dançar de vez em quando, mesmo sabendo que ela é uma mulher. Nunca tenho certeza de como está o seu humor. Posso dançar com uma inocente elfa nórdica ou com a condessa Elisabeth Bathory.

18 junho 2007

Seu Tadeu

- Olha só, Seu Tadeu, olha... O senhor gosta de ver revistas, né?
- Hummm... Hummmm... Humm... Hum... Hummmmmhuummmhummm...
- Tava impaciente, isso vai te distrair. Foi bom sair do carro, tomar um arzinho... Dona Celeste não vai demorar... Vai comprar as coisas rapidinho...
- Humm... Hum... Hummmhummmhmmm...
- Quer que mude de página? Há certo, tem outras fotos... Eu vou apoiar aqui na cadeira, o senhor me fala quando quiser que eu mude de página, ta?
- Huhummm... Hummm... Humhumhum... Hummm...
-Olha lá a dona Celeste! Estamos aqui! Vem, Seu Tadeu... Vamos para casa, vou preparar a janta do senhor e depois vamos tomar um banho bem gostoso...
- Humhumhummmm...

Essa cena eu assisti ontem à noite na Perini da Orla. Fui lá com um amigo, ele foi comprar algo delicioso e eu quis ficar lá fora. Sentei em uma mesa e tentei achar algo interessante o bastante para que eu não fechasse os olhos e dormisse ali mesmo.

Desceram de um Corsa; uma senhora bem vestida, uma garota que aparentava uns 22 anos e um senhor de cadeira de rodas; foi a maior dificuldade para colocá-lo para fora do carro. Um homem que parecia ser o motorista particular da senhora bem vestida fez o trabalho praticamente sozinho. Esse senhor era velhinho e já parecia totalmente dependente, mal se movia direito. Notei logo que a jovem era a pessoa que tomava conta dele e que não se tratava nem de uma enfermeira e nem de uma pessoa que tenha recebido algum tipo de preparo para executar aquele tipo de serviço. O velhinho tinha cara de criança inocente, só que a garota tinha um ar muito mais infantil.

A bem vestida entrou no mercado da Perini e eles dois ficaram lá fora, bem perto de mim. A garota tinha uma sacola na mão, onde pareciam ter algumas revistas. Ela abriu a sacola e tirou uma revista de mulheres nuas, tipo Playboy, embora eu não tenha conseguido ver qual era a publicação. Ficou mostrando para ele com um ar tranqüilo; no pôster que eu consegui ver com mais clareza, uma morena com glúteos semelhantes ao de um hipopótamo posava de costas e fazia aquele biquinho típico de quem comeu um churro estragado. O velhinho apenas fazia sons estranhos, balbuciava sensações. Não fui somente eu que presenciei isso, algumas pessoas que passavam notaram a cena.

O interessante era perceber que a garota não tinha nenhuma noção que estava protagonizando uma imagem que chamava a atenção, principalmente porque não existia nenhuma malícia nela; só estava distraindo aquele idoso mostrando uma revista qualquer. Enfim... Ficaram os dois ali uns vinte minutos e Seu Tadeu me pareceu um tanto saudoso ao ver a morena hipopótamo.

08 junho 2007

Vazio

E sempre que estiver longe da solidão, esquecerá de observar a si mesma. Acaba sendo informação em demasia, e isso atrapalha. Fugir do silêncio analítico só adiará algo que inevitavelmente vai aparecer; existe falta de opção nesse caso, o que ajuda na decisão. A resposta será unitária. Os pesos internos retardam as curas porque com a presença deles os movimentos se tornam mais devagar. Quanto mais pesos forem retirados do interior e dissecados, menos estática se torna a condição como ser humano. Com essas lacunas livres, as dores se espalham e perdem o poder de concentração deixando aberto o espaço e a coragem para as entregas.