29 março 2005

Veludo Azul

O felino olhava fixo para a parede, estranhava o imaginário. Talvez viesse da própria. Tensa, encostava sorrateiramente para observar as atitudes do gato. Susto maior ao perceber que a análise se voltou para ela, não se pode passar indiferente ao olhar invasivo de um animal de beleza abusiva. Cada movimento possui uma plenitude ímpar, o sagrado pode se apresentar de formas diversas, enigmático, às vezes assustador. Ela não deveria mais menosprezar a verdade, mesmo que subtendida, as metáforas assumem formas; interpretá-las é uma questão de mérito próprio. O mundo de um cego pode amedrontar a maioria dos humanos, mas as verdades apenas tomam formas diferentes, outros sentidos se aperfeiçoam. Enxergar não significa necessariamente que alguém veja mais do que uma pessoa isenta de visão, o terceiro olho não se desenvolve através desse conceito.

Ela então vendou os belos olhos com uma fita de veludo azul e sentiu a presença do animal. A sensualidade da cena poderia emudecer os telespectadores presentes na escuridão. E então ela enxergou as suas verdades.