07 março 2005

Santificado

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A tensão era nítida e o rosto dela entregava todo o seu medo; as lembranças vinham como um curta metragem, acelerado e cheio de interpretações dúbias. Com os braços presos na árvore velha, sua imagem submissa começava a ser observada pelas panteras que começavam a chegar ao local. Lindos e negros, os felinos ao mesmo tempo pareciam estudar a princesa e uns aos outros. Um dos animais era uma fêmea, e como estava no cio dividia a atenção da majestade indefesa. As lágrimas sagradas começaram a ficar mais freqüentes, um deles se aproxima e lhe olha no fundo dos olhos. Apesar da presença de muitos corvos no local, chamava a atenção uma Águia Real que sobrevoava fazendo círculos sob o provável sacrifício. Ouviam-se tambores, mas não era possível identificar de onde vinham, era interessante como acompanhavam o pulsar do coração da princesa de olhos azuis brilhantes e pele clara. O primeiro ataque veio justamente da fêmea, ela parecia sentir o cheiro do sexo de sua oponente, os machos visivelmente excitados e confusos, fluidos em excesso pairavam, a energia da vida e da morte estava de mãos dadas à espera da decisão do pássaro fenomenal. Os ferimentos no pescoço foram letais. Nesse momento a pantera fêmea demonstrou total desinteresse na carne de sua vítima, banalizando a ofensiva. Sob os olhos da Deusa que agora pousava em certa altura da árvore, causando uma imediata retirada dos pássaros negros, os machos choravam timidamente, angústia surpreendente, embora a ave já soubesse de tudo. Os belos felinos se retiraram em uma sincronia quase ensaiada, até que o maior de todos se virou e partiu em alta velocidade para o corpo já sem vida preso na árvore velha. Abriu-lhe o peito e arrancou o coração. Em uma atitude de vulnerabilidade explícita, ofereceu o órgão a Águia Real, mas ela não aceitou, e ao se aproximar da besta negra, viu o animal se deitar de forma subordinada e lhe falou baixo: "O que vim buscar já está comigo. Quero que guarde o nobre presente para vocês e substitua essa oferenda por outra; o coração da sua fêmea".