28 janeiro 2005

Sombra

Você sabe o que representa, às vezes se coloca de forma insegura, mas sabe que é você. E uma das razões para você ser única é a capacidade quase total que tem de não tentar entender o seu parceiro. Apenas amá-lo. Com toda a loucura e inconstância, todo o sarcasmo, nem sempre de bom gosto que ele possui. Conseguir compreender a incrível incapacidade dele de administrar dinheiro, até por ser tão perceptível o desdém pelo símbolo capitalista, é outro grande mérito seu. Ele recebe isso com a felicidade e percepção de uma distante consciência que sempre que não é esperada, aparece. Isso é você, produto de natureza complexa e muitas vezes intolerante com bobagens fúteis e sem a menor relevância e, em contrapartida, com uma imensa sabedoria em fugir da hipocrisia, que estraga e desmistifica tudo o que há de mais belo na utopia dos sentimentos. A fúria, a angústia, a raiva, a dor, adormecida ou vomitada, a desgraça momentânea ou a calmaria do pós-sexo; os momentos são sempre sublimes quando a intensidade lembra que o sangue pode ser uma metáfora. A morte não tem como cessar isso, nesse ponto ela é realmente incapaz. A única possibilidade é um distanciamento, mas apenas por alguns instantes. A perseguição seria tão voraz que esse tempo seria curto, quase imperceptível. A forma com que você aceita a sua condenação é de rara beleza e talvez de uma estupidez inominável. Ele é assim: inconstante. E você também. Por isso ser tão bom e tão ruim, se aproxima da perfeição. O que mais conforta é saber que ambos não buscam nada disso, apenas, com a humildade dos inconseqüentes e insanos, querem que todos se fodam. O resto, a própria palavra já explica.