12 novembro 2010

Tom

Tom faleceu em um acidente de moto, em um contexto estranho de tão óbvio. Isso faz pouco mais de um mês, mas a ficha só caiu há uma semana. É estranho. Tinha muito tempo que eu não o via, mas há muito tempo éramos amigos.

Tom era inteligente o suficiente para ter uma vida incômoda, idéias confusas e, justamente por isso, às vezes ficava inerte, perdido. Era um cara simples, de bom coração, uma pessoa de fácil convivência. Ainda assim, era louco. Um maluco romântico que gostava de poesia; soltava uma gargalhada hilária quando ficava bêbado.

Tenho lembranças interessantes do meu amigo. Ele já me convenceu a parar de correr na pista da orla, no meio do meu horário de ginástica, para tomar cerveja em um lugar chamado "Favelinha". Já me convenceu a escrever (pelo menos tentar) poesia, que é algo que não domino de jeito nenhum, sequer gosto. Já me convenceu a aparecer quando eu andava sumido. A andar descalço com ele na areia da praia com um corte gigante na sola do meu pé. Tom já me convenceu de muitas coisas que eu só fiz porque ele me induziu a fazer. Tinha facilidade em ser convincente, sem nunca ter se esforçado para ser assim.

Fico pensando se ele foi cedo demais, mas ao mesmo tempo, o imagino sentado comigo me convencendo que não, que não existe “cedo demais” ou “tarde demais”. É apenas acaso, um acaso óbvio, mas que não costumamos pensar no dia a dia. Não existe nada mais óbvio do que sofrer um acidente fatal pilotando uma motocicleta. Só que quando estamos em cima de uma delas, é a última coisa que a gente pensa.

“Tom não tinha que morrer desse jeito”, foi o que pensei quando a ficha realmente caiu. Mas como é que deveria ser? Existem formas de morrer tão melhores assim? Isentas de dor? Será que ele sentiu algo ou foi instantâneo?

Tenho me feito essas perguntas buscando a certeza de que ele está bem, mesmo que ele não esteja em lugar nenhum. Vou aguardar ele invadir o meu sonho para me convencer mais uma vez.