Oito e trinta e dois da manhã. Cheguei à empresa, ainda com os olhos inchados de uma noite mal dormida, e dou de cara com a minha equipe me olhando, todos com um sorriso maroto no rosto.
- O que houve, pessoal? Por que estão todos me olhando com cara de “hihihihihihihihi”?
Nossa secretária, meio sem jeito, falou baixinho:
- Angel, sua namorada sabe que o número desse aparelho aqui é o da empresa?
- Como assim?
- Ela sabe que esse número não é o seu, mas sim o que utiliza pela empresa? Enfim, ela sabe o número do seu celular particular?
- Sei lá, acho que sim... Por quê? Bem, o número do meu celular ela sabe, né? O da empresa, eu não posso garantir... Por que, mulher?
- Ah... Nada não...
- Nada não? Qual é? Não nasci ontem...
Nesse momento, Paulinho, o gerente de atendimento, me chama e também fala baixinho e rindo:
- Angel, o negócio é o seguinte: ela chegou aqui as oito da matina e checou os computadores, e-mails, ligações recebidas no telefone fixo e nos celulares da empresa, como faz todos os dias. Nesse aparelho tinha duas mensagens de sua namorada.
- Ahn?
- É...
- E o que diziam essas mensagens?
- Acho melhor você ler. Espero que não se importe, mas tivemos que ler, só que eu não permiti que apagassem até você chegar e dizer o que a gente deveria fazer...
- Putz...
Fiquei imaginando se minha querida namorada não estava “inspirada” e resolveu contextualizar em palavras quentes a sua “inspiração”...
- Paulinho?
- Oi...
- Ela falou alguma sacanagem?
- Não... Hahahahahahah! Imaginei que iria perguntar isso...
- Quem leu essas mensagens?
- Eu e Simone...
- Certo...
- Mas não tem nada demais, não. São duas lindas mensagens de amor, nada mais do que isso.
- É?
- É.
- Melosas ou sérias?
- Como assim, “melosas ou sérias”?
- Man... Você entendeu, né?
- Não, Angel... Não entendi...
- Ela usou linguagem debilóide típica de namorada com dengo ou foi algo sério?
- Ah, sim... Foi sério. Por quê? Você não gosta de dengo?
- Porra, man, lógico que gosto. É uma delícia... Mas vou falar sobre a “goiabice” que ela fez e tenho certeza de que ela terá um troço quando se tocar. Mas como ela não falou nem sacanagem e nem dengo retardado, acho que não vai se sentir tão boba.
- Hahahahahahaha! Verdade, ela vai querer se esconder debaixo da mesa da cozinha...
- Na verdade, ela nunca mais vai querer pisar aqui...
- Que bobagem... Foram mensagens lindas. Cheguei a ficar inspirado... Aliás, você não vai ler?
- Cara... Vou sim, claro!
Comecei a ler a primeira mensagem e o meu telefone tocou, desviando a minha atenção. Resolvi apagar logo. Na verdade, mal li o conteúdo porque não tive tempo de prestar atenção.
Ao meio do dia, mandei um e-mail para ela, contando sobre o belo trabalho de endomarketing amoroso que ela tinha feito. Eu já a imaginava entrando em pânico de vergonha, mesmo sendo todo esse engano uma bobagem.
Às 11h39min da manhã, o meu telefone tocou. Era ela. Não pude atender, mas me deu vontade de rir. Eu sabia que ela faria um escândalo e se xingaria durante uma semana. Abri minha caixa de e-mail. E-mail dela. Frase em negrito, com letras enormes: “Que vergoooooooooooooooooooooooooooooonha! Faleci!"
Retornei a ligação às 14h31min.
- Angelo, eu não acredito que fiz isso! Não é possível! Como fui confundir o seu celular com o da empresa? Meu Deus! Eu não existo!
- O que é que tem? Foi fofinho... Agora a empresa inteira sabe o quanto você me ama... Hehehehe...
- Meu Deus! Nunca mais piso lá!
- Deixe de bobagem... Tudo bem que foi a goiabice do século, mas eu também sou desligado, o que é que tem de mais?
- O que tem de mais? Oras, é um celular de empresa, seu mongol!
- E daí? Pior é se você escrevesse sacanagem, o que não teria nada demais, só que seria mais engraçado ainda... Hehehehehe.
- Você acha graça, né, seu porra?
- Baby, quer que eu chore?
- Hahahahahahaha! Não, seu idiota! Só que estou me sentindo ridícula!
- Bem, pode estar certa de que já fiz coisa muito pior, aliás, estando com você mesma, e nem nos tocamos... Desencana!
- Tá, mas vou levar um bom tempo sem ir lá, na moral...
- Boba
- Boba o caralho...
- É sim, muito boba...
- Angelo...
- Diz...
- Vai se foder...
- Só isso?
- Só...
- Tá, baby, vou voltar ao trabalho, ok?
- Ai que ódio...
- Tá, também adoro você...
- Estou de mau humor...
- Pois a empresa inteira ficou de muito bom humor ao ler suas palavras...
- Vai se foder!
- Você já disse isso...
- Então vá, porra!
- Agora não dá, tenho que trabalhar...
- Humpf! Você está se divertindo, né?
- É...
- Heheheheheh! Angelo, você é ridículo...
- Já ouvi isso antes...
- Tá bom... Beijo. Hihihihihihih! Não tô acreditando que fiz isso...
- Acredite... Um beijo.