Uma constatação tão óbvia quanto estranha eu tive – na verdade sempre tenho, em esporádicos momentos. O que estou fazendo aqui, afinal? A grande vantagem em ocupar o próprio tempo é não ter tempo para pensar nisso. A desvantagem dos momentos de ócio ou de pessoas desocupadas é essa; enxergam o óbvio, a verdade.
Viver e ter consciência de estar vivo é deprimente. Não tem nada de agradável na existência, tudo não passa de especulação, a gente fica tentando adivinhar coisas e procurando algo para acreditar. Tem gente que prefere pensar que já nasceu com o destino traçado, outros preferem acreditar que existe um Deus que está acima de tudo e que guia o caminho da humanidade. Ainda há os que se colocam como parte de uma unidade - que é o universo -, e tem também os que não acreditam em porra nenhuma, nem em si próprios; esses últimos normalmente são pessoas que detestam especular e só vivem em universos práticos, onde não cabem “crenças”.
Minhas crenças são conscientemente especulativas, mas nem por isso deixo de vivê-las intensamente. “Outro jeito não há, já que eu tenho que estar solto a descer”... Disse Fábio Cascadura, na música “Queda Livre”. Porra, já que eu não tenho nenhum plano fabuloso para um suicídio cinematográfico – aliás, talvez eu faça isso assim que o meu livro sair; é uma boa maneira de despertar interesse de alguém e aumentar as vendas –, tenho de me divertir.
Pensar entristece demais. É cruel porque nada, absolutamente nada, é real. O que de certa forma torna tudo uma angústia relativamente interessante, é um mundo de inúmeras verdades. E é baseado nessa tese que estou “aconselhando” a mim mesmo a soltar-me da forma mais completa e verdadeira.
Em diálogos com as poucas pessoas interessantes que conheço, noto algumas delas sofrendo do mesmo mal que eu. E todos desejam tornar tudo mais divertido, ou seja, acho que vou ter companhia para a minha queda livre. Bem ou mal, é a melhor forma de viver. É melhor cair livre do que aprisionado por desejos e idéias que não serão realizadas; e caso sejam, novas idéias e desejos aparecerão, percebendo-se, assim, que o xis da questão não são as realizações, mas o eterno buraco vazio que é a existência.
A quem interessou esse texto, aconselho a lê-lo novamente ouvindo a música “Queda Livre”, de Fábio Cascadura.
A queda tem de ser livre.